domingo, 16 de março de 2008

Adrenalina da ignorância.


Fecho os olhos, ouço gritos, quando tapo os ouvidos estas continuam a gritar o meu nome, que será isso? Os gritos caem como se dum precipício caíssem, o eco é forte, intenso e consome toda a minha cabeça, eu quero levantar-me mas não consigo, o corpo paralisa, só me consigo concentrar nas vozes, umas familiares outras não, mas quando tento reconhece-las elas ficam mais fortes, tão fortes, que são inaudíveis, então acordo, mas quando acordo apercebo-me que não estou acordado, acabei de adormecer, porque será que o sonho me chama?
Rapidamente entro num hotel onde as escadas são suspensas no ar, as varandas não têm protecções, assim como as camas e as escadas são envoltas de trepadeiras. Rapidamente desisto das escadas e entro no elevador este com dois lugares, então desço, estou noutra época, tudo parece estragado mas no entanto sei que estou no futuro, perseguem-me, eu instintivamente fujo, caio, acordo e sinto a maior revolta que pode existir não me sinto bem nem me quero continuar a sentir assim, tenho de me exprimir e as palavras são o que me valem, o que sinto é uma revolta que da um aperto no peito, uma revolta que não me deixa estar parado, uma revolta que trás ao de cima a minha violência apetece-me partir tudo! A força com que escrevo quase parte a caneta, os meus dentes rangem, ouve-se o barulho! E os meus músculos estão tão contraídos... O sentimento não se vai embora enquanto eu não tiver uma resposta da outra parte.
O meu ser eleva-se a outro nível em que sinto a tristeza a correr dentro de mim misturada com a fúria que não cessa e corre, fazendo a tristeza parecer raiva uma raiva que não some e continua por mim a dentro.
Preciso de uma resposta, a resposta que tenho, nunca mais vem, tento esquecer mas rapidamente me lembro, o choro quer vir mas não consigo perceber se é raiva se tristeza! As minhas mãos andam no papel amachucando-o, a minha respiração torna-se forte, funda, inspirando vou tentando controlar-me, mas tudo o que faz é trazer ao de cima a tristeza!
Nesse momento relembro a minha vida e tudo o que ela tem de mal, será que basta uma pessoa para me fazer isto? Eu continuo a achar que não, mas sei que sim que é ela quem me faz isto, ela!
Eu já não quero ser quem sou, eu agora sou tudo o que não quero ser, perco-me e ajo como os outros, não esquecendo o que oiço, lembro-me do comentário que nunca esqueci e volta a raiva e volta a tristeza e volta a paranóia e volta tudo, até que já é outro dia e eu não quero mais nada senão ela, mas eu não sei quem é ela, ela é o mal é tudo o que em mim ta mal o que faz dela tudo o que eu gosto!
Mas para quê tanta revolta tanta tristeza por causa de um simples abismo que me leva e não quer que eu volte? Volto a ouvir o eco, volto a ouvir os gritos, volto a ser quem sou, estes levam-me de novo, e o meu nome é dito vezes sem conta como chamadas de atenção, odeio-me! Sou tudo aquilo que os outros são, sou tudo aquilo que não queria ser, continuo igual a todos e a raiva volta, o poço de onde vim já mora lá gente. Sou mais um insignificante que não sabe o que diz! E FOSTE TU! TU QUE ME DISSESTE QUE EU O ERA, E EU NÃO ME VOU ESQUECER! A minha burrice volta ao de cima, a raiva foi-se, sou normal de novo, a força se gasta, o que era adrenalina agora é preguiça, o que era tristeza agora é indiferença, o que era raiva é agora desinteresse, o que eu era é agora nada.

Julho 2006

Sem comentários: